quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Os valores cristãos e o carnaval

Espetáculo para turistas e oportunidade aos menos escrupulosos
O carnaval é uma realidade. Ele aí está e penetra pelos olhos. Melhor dizendo, já
vivemos esse clima há várias semanas.
Todo indivíduo sente necessidade de alegria. Sem ela, a existência se torna
insuportável. A própria saúde física se ressente. Diz a Sagrada Escritura, no livro
Eclesiastes (9, 15ss): “Por isso louvei a alegria, visto não haver nada de melhor para o
homem (...) é isto que o acompanha no seu trabalho, durante os dias que Deus lhe
outorgar debaixo do sol”. E o Senhor, nos Provérbios (2,14-15), lembra que há limites,
pois são reprovados os “que se alegram por terem feito o mal e se regozijam na
perversidade do vício, cujos caminhos são tortuosos e se extraviam por vias oblíquas”.
Os festejos carnavalescos têm remota e obscura origem eclesiástica. Tanto assim
que dependem de uma data móvel do calendário litúrgico. Antecedem sempre o início da
Quaresma. Terminam – quando terminam - com as cinzas da quarta-feira. E a Igreja, em
seu ritual, recorda ao homem a fragilidade de sua condição: “Lembra-te, ó homem, que és
pó e ao pó hás de tornar”.
Encaro com realismo esses dias ruidosos. Devemos ter a coragem de avaliar o que
ocorre na Cidade. Por vezes, assumem proporções de verdadeiras orgias coletivas, com
crescente degradação dos padrões morais e agressão à dignidade humana.
O carnaval perde, aos poucos, seu sentido original de diversão simples do próprio
povo. Vem a ser mais um espetáculo para turistas, e oportunidade aos menos escrupulosos
de extravasar baixos instintos, esperando contar com certa cumplicidade do meio
ambiente. Aumentam os crimes, os atentados ao pudor, as violências e o excesso de
álcool. Cresce o consumo das drogas, que geram os “dependentes”, porque usaram
abusivamente sua “independência”.
O corpo humano tem uma dignidade inalienável. Não pode ser profanado
pelo exibicionismo desregrado. Aviltar dessa maneira a beleza é atingir o próprio
Deus, de onde emana tudo o que temos de positivo. São Paulo nos ensina: “Fugi da
fornicação. Todo pecado, que o homem comete, é exterior ao seu corpo; aquele, porém,
que se entrega à fornicação, peca contra o próprio corpo"! Ou não sabeis que o vosso
corpo é templo do Espírito Santo?” (1Cor 6,18-19). E o Apóstolo é incisivo: “Se alguém
destrói o templo de Deus, Deus o destruirá” (Idem 3,17).
Em uma cidade onde persistem tão grandes carências básicas, são feitos gastos
suntuosos de brevíssima utilização, com os efeitos negativos. Tentam acobertá-los sob o
pretexto de divisas ou razões semelhantes. Também a gente humilde se impõe pesadas
privações para ostentar galas efêmeras. É despendido em poucos dias ou em horas o que
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se economizou durante o ano inteiro, talvez com sacrifício da alimentação da própria
família. Explicações ou motivos alegados não justificam essa dura realidade.
Compreendo a necessidade da descontração na vida de um povo sofrido. Entendo
também que há limites. Ultrapassá-los é cair na insensatez coletiva.
Não tenho a ingenuidade de pretender reviver padrões de comportamento de um
passado que não volta. Insisto, isto sim, em afirmar que há formas nobres, simples e
sadias de lazer. Elas irradiam a alegria autêntica que refaz as forças do corpo e aumenta
as energias do espírito. Igualmente, não nego aspectos positivos nesses festejos. Contudo,
tomados como um todo, merecem restrições ditadas pelo mais elementar bom senso.
Que fazer, então? Refletir, durante esses dias, sobre as conseqüências que poderão
advir. Isso nos conduz a uma indispensável moderação, distinguindo, do que há de
aceitável, aquilo que encerra em seu bojo condenáveis manifestações de baixos instintos.
Afinal, somos seres racionais e não simples animais, destituídos de razão. Isso nos
possibilita selecionar, o que é saudável, nesse período que antecede a Quaresma e rejeitar
o que fere uma consciência cristã. Assim evitamos desgraças irrecuperáveis.
Recordamos o que nos diz João Paulo II: “Tenho diante dos olhos a imagem da
geração de que fazemos parte: a Igreja compartilha a inquietude de não poucos homens
contemporâneos. E no entanto, há que preocupar-se ainda com o declínio de muitos
valores fundamentais, que constituem um bem incontestável, não só da moral cristã mas
também, simplesmente, da moral humana, da cultura moral” (Encíclica “Dives in
Misericordia”).
Por uma submissão generosa, o homem prudente orienta seu procedimento,
discernindo o aceitável e repudiando tudo aquilo que contraria frontalmente nossa
qualidade de filhos de Deus. Temos que compreender nossa época, inseridos que somos no
mundo, mas é preciso coragem para reprovar o que se opõe à dignidade humana,
fundamentada no Evangelho de Cristo. Muitos são severos nos julgamentos, aliás justos,
da corrupção pública. Costumam, entretanto, omitir-se nesse outro tipo de devassidão
coletiva, igualmente conseqüência de uma sociedade impregnada de critérios materialistas.
Dezenas de milhares de católicos que não saem do Rio participam de retiros
espirituais. Como exemplo, o Retiro Rio de Água Viva, promovido pela Renovação
Carismática Católica. Foi iniciado em 1981, em uma paróquia, reunindo 300 pessoas,
gradativamente foi crescendo, levando os organizadores a realizá-lo no Ginásio do
Maracanãzinho. Durante muito tempo reuniu milhares de adultos e jovens, do sábado à
terça-feira de carnaval, sempre de 9 às 18 horas. Hoje, devido às obras desse local, é
utilizado o ginásio esportivo de um grande colégio. São quatro dias em que as pessoas
acorrem ao sacramento da confissão, atendidas diariamente por dezenas de sacerdotes;
participam intensamente da celebração da Eucaristia e de outros atos de piedade.
Recordo-me que num determinado ano, ao encerrar esse retiro, a assistência
aproximada era de 20.000 pessoas, em parte ponderável composta por jovens. Em muitos
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outros locais são promovidos retiros espirituais em regime de internato e também retiros
menores nas paróquias, que têm significativa presença. Em muitas igrejas o Santíssimo
Sacramento é exposto e atos de reparação pelos pecados cometidos são realizados.
Quando, no estrangeiro, ouço referências desabonadoras ao Rio de Janeiro,
a propósito de excessos ocorridos no Carnaval, costumo lembrar que a cidade,
nesses dias, possui, também, outra face, que nobilita seus habitantes. E cito
esses retiros, para que tenham uma idéia correta de nossa realidade.
Recentemente, tive notícia que denigre o nosso país. Um determinado site – e pelo
visto não é o único – faz propaganda de turismo no Rio, no carnaval, apresentando cenas
de festas regadas à bebida e exploração da figura feminina. Pelo visto, o Rio de Janeiro e
outras capitais só podem merecer visitantes que se interessem por isso.
O carnaval constitui um desafio. Deve nos impulsionar a alguma atitude positiva,
distinguindo o direito ao lazer dos abusos oriundos dos desvios morais, tentam obscurecer
a nobreza do espírito. Os excessos – e aí está o que há de condenável nesses festejos –
em vez de deixarem o ânimo abatido no cristão, estimulam nossa confiança no Salvador,
possibilidade de recuperação, sempre latente no íntimo de nossos irmãos. Condenemos o
mal, mas confiemos no poder de Deus.
Cardeal D. Eugenio de Araújo Sales
Arcebispo Emérito da Arquidiocese do Rio de Janeiro
19/02/2007 - 12h00

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A Juventude da Área Pastoral de Nossa Senhora da Conceição de Guamaré, se organiza para ir prestigiar o grande Show de Gravação do DVD da Jornada Mundial da Juventude em Natal.


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